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terça-feira, 29 de março de 2011

Esfera de dois lados

Há algumas situações no mundo do futebol que chamam a atenção. Hoje foi confirmado pelo dirigente do Atlético, Eduardo Maluf, que Jobson não ficará na equipe. Insatisfeito, o jogador pediu para sair, dizendo não se adaptar à capital mineira. 

Bobagem.

Domingo último, o Cruzeiro, principal rival do Galo, enfrentou o América, em Varginha, em jogo do Campeonato Mineiro, e o argentino Montillo entrou em campo, com o joelho aparentemente não recuperado por completo (os mais observadores devem ter visto que, em sua perna esquerda apenas, o meião subia acima de seu joelho e, ainda, que existia ali, uma daquelas fitas adesivas, comumente usadas atualmente, pelos jogadores com dores musculares). Muito pior que o incômodo proveniente do joelho, deve ter sido a dor sentida, no mesmo lado, pouco acima, no peito do meia: seu filho caçula, Santino, de apenas 1 ano, havia tido complicações por uma pneumonia durante a semana, tendo ficado, inclusive, internado em uma Unidade de Tratamento Intensivo.

Profissional que é, Walter Montillo treinou durante a semana, viajou a Varginha com a equipe e jogou. Muito. Fez o terceiro tento celeste, que garantiu a vitória, e dedicou ao pequeno, dizendo às câmeras "Santi, te amo". O camisa 10 celeste joga futebol por amor ao filho. Calado, sabe que seu futuro está dentro das quatro linhas, não em baladas, desfiles, churrascarias e sambas. Joga (muita) bola e ponto final.

Nesse quesito, Conca joga no time de Montillo. Ano passado, o armador do Fluminense chamou a responsabilidade e foi o principal responsável pelo título brasileiro (na minha opinião, mais até que Muricy). O argentino jogou todas. Assim como Montillo, Conca fala pouco, aparece pouco para a mídia e joga muito.

Uma pena que hoje alguns dirigentes paguem valores totalmente absurdos por um jogador que gosta mais de churrasco, cerveja ou samba do que de bola. Não são raros os casos que ouvimos de "Fulano" que, por preguiça de viajar na próxima rodada, força um cartão e vai pescar. Ou "Cicrano" que não pode perder um "showzinho do Belo" e apronta das mesmas.

Em tempo

Ao ser noticiada a complicação do filho de Montillo, por programas esportivos, várias pessoas postaram seus votos de apoio à criança, através da tag #FuerzaSantino, no twitter. Acredito que a premissa é válida, uma vez que represente os votos sinceros, não só de uma torcida, mas de um grupo de pessoas, que torcem pela recuperação do garoto. 

Infelizmente, alguns perfis vinculados ao Cruzeiro transformaram isso numa ridícula competição para estar entre os trending topics (assuntos mais comentados) da rede, uma patética maneira de usar o momento difícil para a família, numa forma de divulgar a imagem do clube.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Gênio fenomenal

Mineirão, 7 de novembro de 93. O Cruzeiro goleava o Bahia pelo Campeonato Brasileiro. O camisa 9 era um garoto franzino, bom de bola, que já chamava certa atenção, mas que ainda era promessa. O time azul já vencia por 5 a 0, com quatro gols daquela figura dentuça quando acontece um dos lances mais inusitados de sua lendária carreira. Rodolfo Rodriguez, goleiro da equipe baiana, faz uma defesa e se ajoelha, soltando a bola ao seu lado. Arisco, o menino, que estava ali perto, rouba a redonda e empurra pra dentro do gol. 6 a 0, cinco tentos dele, e ali nascia para o Brasil, o menino Ronaldo. No fim do jogo, mostrou a inocência de uma criança ao ser entrevistado. Com um sorriso largo no rosto, pergunta para o repórter "Gravou aquela ali?"

O garoto ainda fez partidas memóraveis na equipe mineira. Ao contrário do que alguns imaginam, disputou sua primeira Taça Libertadores já em 94, com a camisa azul. Marcou um gol de placa contra o lendário Boca Juniors, no Mineirão, em que arrancou do meio campo, driblou os marcadores, o goleiro e empurrou para as redes vazias. No mesmo ano, conseguiu seu primeiro título profissional, sendo Campeão Mineiro.

Com apenas 17 anos, foi convocado para sua primeira Copa do Mundo em 94, nos Estados Unidos e, apesar de ter passado toda a competição no banco de reservas, compôs o elenco que trouxe o quarto título mundial ao Brasil. Ali, virou Ronaldinho e, após 58 jogos e 56 gols com a camisa azul, deixou o Cruzeiro. Foi vendido ao PSV Eindhoven da Holanda, por 6 milhões de dólares.

Provou mais uma vez seu valor. Golássos e jogadas de efeito, convocações corriqueiras à seleção nacional, amadurecimento e evolução física. Apesar de tudo, o craque acabou adquirindo ali, sua única deficiência dentro das quatro linhas. Devido a um técnico que insistia que o garoto subisse para cabecear no meio dos zagueiros brutamontes, ele criou um certo receio no jogo aéreo e, pelo resto da carreira ficou caracterizado por não saber cabecear.

Em 96, por 20 milhões de dólares, Ronaldinho deixa a Holanda e vai para a Espanha. Em apenas um ano, faz história. Difícil não se lembrar das inúmeras camisas listradas em azul e grená, com o número 9 estampado às costas, espalhadas pelas ruas do Brasil. O garoto que era promessa virou realidade e, após partidas memoráveis, dribles mágicos e vários gols, se tornou o melhor do mundo.

28 milhões de dólares e o centro-avante se muda para a Itália. Ronaldinho veste a camisa 10 da Internazionale e após 25 gols e o segundo título de melhor do mundo, vira o Fenômeno. Passa a primeira temporada na equipe e chega para a disputa do mundial da França, em 98, como o mais indicado a levar o Brasil ao título. E é justamente aí, que sofre sua primeira queda. Após boas atuações, cai justamente na final, diante dos donos da casa e, no fim do ano, perde o trono do mundo da bola para Zidane.

Em 99, a segunda queda. De volta com a sua velha camisa 9, atuando pela Inter, o Fenômeno rompe o tendão patelar do joelho direito e tem que ficar afastado dos gramados por 5 meses. Retorna em 2000, cercado de espectativa contra a Lazio, mas se lesiona novamente. Dessa vez, ele ficaria mais de um ano afastado do futebol e vivia a pior fase na carreira.

Desacreditado, o Fenômeno voltou a atuar aos poucos, sendo utilizado ocasionalmente. O Brasil se classifica para a Copa do Mundo de 2002 com dificuldade e sem contar com seu futebol nas eliminatórias. Luís Felipe Scolari então o chama e ele renasce.

Ronaldinho vira Ronaldo. Cresce. É o artilheiro da competição mundial com 8 gols, sendo dois na final. Apaga a fama de amarelão que recebera em 98 e cala todos os que não acreditavam em seu retorno. Reconquista o status de herói do esporte nacional. Se transfere para o Real Madrid e, no fim do ano, ganha pela terceira vez o título de melhor do mundo pela FIFA.

No Real, Ronaldo começou avassaldor, mas não teve a mesma constância de outrora. Apesar das conquistas nacionais, não tem glórias fora da Espanha e começa a ser contestado, assim como seus companheiros "Galáticos".

No mundial de 2006, fracassa junto com os outros três lados de um quadrado mágico ilusório. Mesmo assim, marca três gols, que foram o suficiente para se tornar o jogador com mais gols na história das Copas do Mundo.

O peso aumenta, assim como as críticas. Pela primeira vez em sua carreira, o atacante é transferido por um valor baixo e vai jogar no Milan, em 2007. Até tem seus momentos de Ronaldo. Faz gols, alguns deles belos, jogadas de efeito, mas não é mais sombra do gênio que havia sido no passado. Mais uma vez sofre com o joelho e, em 2009, volta ao Brasil, agora no Corinthians.

Um rechonchudo Ronaldo conquista a fiel de cara e sua equipe vence a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista de forma invícta, mas é só. Fica muito tempo em São Paulo e desgasta sua imagem, terminando a carreira como alvo frequente de piadas.

Se encerra o ciclo de um dos mais talentosos futebolistas da história. Só ele e Zidane, dentre os que vi, coloco como gênios, um patamar acima de cracássos como Messi, Ronaldinho Gaúcho, Cristiano Ronaldo, George Weah, Ryan Giggs e muitos outros.

É triste ver alguém que vivia o futebol, que gostava da profissão e tinha esperança de fazer o impossível real, desistir. mas a idade pesa. O hipotiroidismo pesa mais. Que tudo o que fez esse monstro sagrado do futebol fique guardado na mente de cada amante do mundo da bola. Afinal, a alegria do futebol é a redonda no barbante e, como já diria Marcelo D2, Ronaldo é gol!

http://www.youtube.com/watch?v=I3CEbqdfO3w

http://www.youtube.com/watch?v=7WYVhZcHltg

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

[BRASILEIRÃO 2010] - Balanço FInal

Termina o ano para os boleiros do Brasil. O Fluminense conquista, na minha conta, seu terceiro título brasileiro (considero Taça Brasil, Robertão, etc..). Cruzeiro e Corinthians ficam com a segunda e terceira posição respectivamente e se garantem na Libertadores. O quarto colocado, Grêmio, torce contra o Goiás que se vencer a Sulamericana na quarta, rouba a vaga dos gaúchos. Apesar da bela campanha na competição internacional, os goianos caem para a Série B junto com Vitória, Guarani e Grêmio Prudente.

Como mineiro, faço uma pequena referência às equipes daqui. Primeiro o Cruzeiro, vice-campeão, dois pontos atrás do Fluminense. Há cerca de 6 meses escrevi nesse blog sobre a demissão de Adílson Batista. Defendi o trabalho a longo prazo do treinador, dizendo que aqueles que se apegam aos números iriam contar o número de pontos no fim da temporada. Não acreditava que qualquer nome possível para a substituir Adílson teria sucesso. Paguei língua.

Cuca chegou e teve a paralização da Copa do Mundo para ajustar o time. Pouco depois, chegou Montillo e a ordem na casa foi colocada. O time melhorou, subiu na tabela e disputou a ponta até a última rodada, ficando a uma vitória de se sagrar campeão.

O treinador paranaense usou sim de uma base deixada pelo seu antecessor (e conterrâneo), mas seria muita prepotência dizer que ele mesmo não teve grande responsabilidade na arrancada celeste.

No outro lado da lagoa, o Atlético Mineiro começou o ano com o badalado Vanderlei Luxemburgo prometendo um projeto de dois anos. O treinador conquistou o mineiro, mas fez campanha terrível no campeonato nacional, perdendo o cargo para Dorival Júnior. O novo comandante não só alvou o time da degola (que parecia certa com Luxa), como trouxe tranquilidade nas rodadas finais e garantiu uma vaga na Sulamericana de 2011.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"Deixem o sol brilhar"

Mais uma garrafa gelada de Heineken desce pela minha garganta. Enquanto o álcool domina meus sentidos, imagino o "Dr. Gonzo" e sua mescalina. Uma sensação mágica, eu presumo... Pela milésima vez, em apenas uma semana, Rhys Ifans me diz que "a única coisa que faz sentido nesse mundo louco é o rock & roll". Mais uma vez, acredito em suas palavras.

Cervejas e mais cervejas descem guela abaixo, enquanto tudo parece ir ficando cada vez mais claro. Toda a escuridão de outrora começa a dar lugar a uma certeza de que tudo se resolve. Tudo tem conserto. A vida solitária, a falta de uma parceira, vagar em busca de um sentimento há muito ausente, nada disso importa. Traga a loucura, a inconsciência e todas as mazelas não mais farão sentido.

Um pensamento ignorante? Inocente? Utópico? Sinceramente, não sei. Mas feliz daquele que viveu o "mundo da fantasia". Um mundo em que era possível sonhar. Acreditar que a música e o amor ao próximo exterminariam a guerra.

Não sou hippie. Não sou comunista, socialista, muito menos doutrinador capitalista. Só descobri que vale a pena sonhar por um mundo em que um solo de guitarra esvasia um campo de concentração.

http://www.youtube.com/watch?v=b3V8EznD4Jo


P.S.:  Mais uma vez, o título do post é uma música. Dessa vez, Let The Sunshine In, de Army Of Lovers

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Eu sei que é só rock & roll, mas eu gosto"

Peito apertado, vazio. Mãos trêmulas, cabeça pesada. Tudo fora do lugar, o mundo inteiro se rebela e parece entrar em conflito com um único ser: você.

Que atire a primeira pedra aquele que nunca passou por isso. Um sentimento de não pertencer à Terra, de não ter lugar nesse mundo enorme que, de repente, se torna tão pequeno quanto uma bolha.

Ainda bem que existe o bom e velho rock & roll.

Basta me desligar da tomada por um instante e me deixar levar pelo som de guitarras, baterias, baixos e berros. Deixar a música apagar qualquer sentimento presente outrora. O corpo volta fluir em harmonia. De súbito, os pés se inquietam, como se os bumbos da bateria estivessem sob eles. As mãos fluem como se um instrumento de cordas estivesse em meu controle. Velozmente os dedos tentam, no ar, reproduzir o som do solo de guitarra que penetra meus ouvidos. A alma se liberta por alguns segundos e foge para o mundo em que tudo faz sentido, mesmo que não exista razão.

Em apenas 3 minutos, uma canção alcança o ponto que um profissional talvez não consiga atingir em anos a fio de tratamento no divã. Não que eu seja contra os psicólogos, jamais. Um deles já "salvou minha vida". Mas o ápice atingido numa "pancada sonora" é simplesmente inigualável.

http://www.youtube.com/watch?v=pjuhgPQ9jtg

P.S.: O título é um trecho da música It's Only Rock & Roll (But I Like It), dos Rolling Stones.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Jimi, o imortal

Cabelos despenteados, pele negra, um pequeno bigode e roupas coloridas e extravagantes. Jimi Hendrix era um gênio que, tanto no seu estilo de música, como no modo como vestia e vivia, sempre representou o rock & roll em sua essência. A guitarra quase sempre distorcida, acompanhada de uma genial falta de comprometimento com a estética sonora (seja pela microfonia recorrente ou pelo abuso dos improvisos) foram responsáveis pela reinvenção do rock. Hendrix não repetia solos. Não era de tocar uma mesma música duas vezes da mesma maneira. O guitarrista não buscava a perfeição técnica, reproduzia o sentimento, tocava com a alma.

Não é atoa que Jimi Hendrix é considerado como o maior guitarrista da história. Particularmente, não gosto desse tipo de ranking. Cada músico tem seu valor e é até um tanto injusto deixar homens como B.B. King (inspiração do próprio Hendrix) para trás. Mas é inegável que Jimi é a base para quase tudo que se viu depois dele. Todo grande guitarrista que o precede tem como inspiração sua obra.

Nascido em Seattle, nos Estados Unidos, Jimi foi conhecer o gosto do sucesso em 1966, quando já vivia na Inglaterra. Junto com o sucesso veio a loucura que acompanha o mundo do rock e, no dia 18 de Setembro de 1970, aos 27 anos, o músico morreu, asfixiado em seu próprio vômito, em um hotel de Londres.

Já se passaram pouco mais de 40 anos da morte de Jimi e seu legado continua, firme e forte como sempre esteve. Mesmo que modismos musicais apareçam, o bom e velho rock & roll sempre ocupou, e pelo visto continuará ocupando, seu espaço, seja se reinventando, inovando ou trazendo a mesma química "crua" de décadas passadas.


quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sob a Máscara do Desejo

Feixes vermelhos de luz iluminam o palco. Olhos famintos a observam, enquanto seu corpo curvilíneo permanece em movimento. Seus seios rígidos se agitam no ritmo de seus quadris. Os longos cabelos dourados voam de um lado para o outro enquanto seus dentes apertam levemente os lábios. Seu corpo exala desejo.

Ela desce do palco e caminha em direção às mesas. Instintos selvagens gritam dentro de cada homem presente. Eles precisam senti-la. Sentir sua pele, seu corpo. Ela olha fixamente para cada um. Seus olhos percorrem o salão até se encontrarem com os meus. Sinto o avolumamento dentro de minha calça. Vejo-a caminhar em minha direção e, por alguns segundos, meu sangue congela. Com um olhar calmo e seguro ela me hipnotiza. Cerro meus olhos e deixo-me inebriar com seu cheiro. Poucos segundos se passam e ela se vira para retomar seu lugar ao palco.

A música cessa. Rapidamente ela recolhe suas peças de roupa espalhadas pelo chão. Acena e manda alguns beijinhos pelo ar àqueles que uivam insanos. Ao som de assovios e aplausos, sai de cena. Não é mais aquele furacão que deixou a todos excitados e volta a ser somente mulher. Repleta de sentimentos e anseios, sufocada pela realidade.

Um pequeno espelho, uma nota de vinte enrolada como um canudo. Uma fungada naquela substância branca como a neve e sua tensão volta a ficar em segundo plano. Ela veste sua roupa e volta a cobrir sua alma com uma máscara. Triunfante, retorna caminhando ao meio do salão. Seu show se encerrou, mas a noite apenas começa.

Jovens procurando diversão, homens mais velhos que precisam de companhia, gente de todas as idades em busca de uma boa sacanagem. Tipos variados que ela consegue decifrar rapidamente. Anda calmamente, próximo ao grupo de jovens, deixa-os sentir seu perfume e tocar de leve sua pele por poucos segundos. Tempo suficiente para despertarem a libido. Segue e arranca mais alguns uivos e assovios de um grupo de bêbados, escornados em uma poltrona ao canto. Passa direto por mim, não sem antes olhar no fundo dos meus olhos e penetrar, mais uma vez, minha alma. Pára. Coloca nos lábios o sorriso mais sincero que consegue e senta-se ao lado do único homem que não havia babado por sua performance.

A barriga protuberante quase o impede de alcançar o copo de uísque que pousa sobre a mesa. Correntes douradas no pescoço quase se perdem em meio aos pêlos, expostos pela camisa entreaberta. Em sua mão esquerda, uma grossa aliança dourada caminha pelas coxas torneadas de sua acompanhante, enquanto ele pede para a garçonete servi-la um drinque. A simples imagem de tal criatura possuindo-a causa-me enjôo.

As doses de uísque são derramadas como se fossem copos d'água. A cada minuto que passa, as gargalhadas aumentam. Aos poucos, ela vai se soltando. Seus gestos indicam que agora não se trata mais de apenas uma transação financeira. Ela se solta. Parece livre, despreocupada. Talvez em decorrência da mistura de álcool e substâncias psicotrópicas, talvez pela companhia.

Ele é diferente dos outros. Ela não se importa com a aliança em sua mão esquerda, ou com sua aparência, muito menos com seus modos (ou falta deles). Diferente de todos os outros, ele a escuta. Não uivou, nem assoviou quando a viu no palco, tampouco aplaudiu.

Se levantam. De mãos dadas, caminham para o quarto. Passam-se algumas horas. Outras se apresentam, recebendo os mesmos assovios e aplausos. Mais pares caminham para os quartos, enquanto alguns ficam por conta de só observar. Reaparecem. Novamente de mãos dadas. Novamente sorrindo.

Após um longo beijo de despedida, ele se vai, silencioso como chegara. Ela, triunfante como antes, caminha em direção a outra mesa. Sorridente, se apresenta a um jovem com quem se senta. Pede uma bebida. Recomeça seu jogo. Sua profissão. Sua vida.