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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Gênio fenomenal

Mineirão, 7 de novembro de 93. O Cruzeiro goleava o Bahia pelo Campeonato Brasileiro. O camisa 9 era um garoto franzino, bom de bola, que já chamava certa atenção, mas que ainda era promessa. O time azul já vencia por 5 a 0, com quatro gols daquela figura dentuça quando acontece um dos lances mais inusitados de sua lendária carreira. Rodolfo Rodriguez, goleiro da equipe baiana, faz uma defesa e se ajoelha, soltando a bola ao seu lado. Arisco, o menino, que estava ali perto, rouba a redonda e empurra pra dentro do gol. 6 a 0, cinco tentos dele, e ali nascia para o Brasil, o menino Ronaldo. No fim do jogo, mostrou a inocência de uma criança ao ser entrevistado. Com um sorriso largo no rosto, pergunta para o repórter "Gravou aquela ali?"

O garoto ainda fez partidas memóraveis na equipe mineira. Ao contrário do que alguns imaginam, disputou sua primeira Taça Libertadores já em 94, com a camisa azul. Marcou um gol de placa contra o lendário Boca Juniors, no Mineirão, em que arrancou do meio campo, driblou os marcadores, o goleiro e empurrou para as redes vazias. No mesmo ano, conseguiu seu primeiro título profissional, sendo Campeão Mineiro.

Com apenas 17 anos, foi convocado para sua primeira Copa do Mundo em 94, nos Estados Unidos e, apesar de ter passado toda a competição no banco de reservas, compôs o elenco que trouxe o quarto título mundial ao Brasil. Ali, virou Ronaldinho e, após 58 jogos e 56 gols com a camisa azul, deixou o Cruzeiro. Foi vendido ao PSV Eindhoven da Holanda, por 6 milhões de dólares.

Provou mais uma vez seu valor. Golássos e jogadas de efeito, convocações corriqueiras à seleção nacional, amadurecimento e evolução física. Apesar de tudo, o craque acabou adquirindo ali, sua única deficiência dentro das quatro linhas. Devido a um técnico que insistia que o garoto subisse para cabecear no meio dos zagueiros brutamontes, ele criou um certo receio no jogo aéreo e, pelo resto da carreira ficou caracterizado por não saber cabecear.

Em 96, por 20 milhões de dólares, Ronaldinho deixa a Holanda e vai para a Espanha. Em apenas um ano, faz história. Difícil não se lembrar das inúmeras camisas listradas em azul e grená, com o número 9 estampado às costas, espalhadas pelas ruas do Brasil. O garoto que era promessa virou realidade e, após partidas memoráveis, dribles mágicos e vários gols, se tornou o melhor do mundo.

28 milhões de dólares e o centro-avante se muda para a Itália. Ronaldinho veste a camisa 10 da Internazionale e após 25 gols e o segundo título de melhor do mundo, vira o Fenômeno. Passa a primeira temporada na equipe e chega para a disputa do mundial da França, em 98, como o mais indicado a levar o Brasil ao título. E é justamente aí, que sofre sua primeira queda. Após boas atuações, cai justamente na final, diante dos donos da casa e, no fim do ano, perde o trono do mundo da bola para Zidane.

Em 99, a segunda queda. De volta com a sua velha camisa 9, atuando pela Inter, o Fenômeno rompe o tendão patelar do joelho direito e tem que ficar afastado dos gramados por 5 meses. Retorna em 2000, cercado de espectativa contra a Lazio, mas se lesiona novamente. Dessa vez, ele ficaria mais de um ano afastado do futebol e vivia a pior fase na carreira.

Desacreditado, o Fenômeno voltou a atuar aos poucos, sendo utilizado ocasionalmente. O Brasil se classifica para a Copa do Mundo de 2002 com dificuldade e sem contar com seu futebol nas eliminatórias. Luís Felipe Scolari então o chama e ele renasce.

Ronaldinho vira Ronaldo. Cresce. É o artilheiro da competição mundial com 8 gols, sendo dois na final. Apaga a fama de amarelão que recebera em 98 e cala todos os que não acreditavam em seu retorno. Reconquista o status de herói do esporte nacional. Se transfere para o Real Madrid e, no fim do ano, ganha pela terceira vez o título de melhor do mundo pela FIFA.

No Real, Ronaldo começou avassaldor, mas não teve a mesma constância de outrora. Apesar das conquistas nacionais, não tem glórias fora da Espanha e começa a ser contestado, assim como seus companheiros "Galáticos".

No mundial de 2006, fracassa junto com os outros três lados de um quadrado mágico ilusório. Mesmo assim, marca três gols, que foram o suficiente para se tornar o jogador com mais gols na história das Copas do Mundo.

O peso aumenta, assim como as críticas. Pela primeira vez em sua carreira, o atacante é transferido por um valor baixo e vai jogar no Milan, em 2007. Até tem seus momentos de Ronaldo. Faz gols, alguns deles belos, jogadas de efeito, mas não é mais sombra do gênio que havia sido no passado. Mais uma vez sofre com o joelho e, em 2009, volta ao Brasil, agora no Corinthians.

Um rechonchudo Ronaldo conquista a fiel de cara e sua equipe vence a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista de forma invícta, mas é só. Fica muito tempo em São Paulo e desgasta sua imagem, terminando a carreira como alvo frequente de piadas.

Se encerra o ciclo de um dos mais talentosos futebolistas da história. Só ele e Zidane, dentre os que vi, coloco como gênios, um patamar acima de cracássos como Messi, Ronaldinho Gaúcho, Cristiano Ronaldo, George Weah, Ryan Giggs e muitos outros.

É triste ver alguém que vivia o futebol, que gostava da profissão e tinha esperança de fazer o impossível real, desistir. mas a idade pesa. O hipotiroidismo pesa mais. Que tudo o que fez esse monstro sagrado do futebol fique guardado na mente de cada amante do mundo da bola. Afinal, a alegria do futebol é a redonda no barbante e, como já diria Marcelo D2, Ronaldo é gol!

http://www.youtube.com/watch?v=I3CEbqdfO3w

http://www.youtube.com/watch?v=7WYVhZcHltg