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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sob a Máscara do Desejo

Feixes vermelhos de luz iluminam o palco. Olhos famintos a observam, enquanto seu corpo curvilíneo permanece em movimento. Seus seios rígidos se agitam no ritmo de seus quadris. Os longos cabelos dourados voam de um lado para o outro enquanto seus dentes apertam levemente os lábios. Seu corpo exala desejo.

Ela desce do palco e caminha em direção às mesas. Instintos selvagens gritam dentro de cada homem presente. Eles precisam senti-la. Sentir sua pele, seu corpo. Ela olha fixamente para cada um. Seus olhos percorrem o salão até se encontrarem com os meus. Sinto o avolumamento dentro de minha calça. Vejo-a caminhar em minha direção e, por alguns segundos, meu sangue congela. Com um olhar calmo e seguro ela me hipnotiza. Cerro meus olhos e deixo-me inebriar com seu cheiro. Poucos segundos se passam e ela se vira para retomar seu lugar ao palco.

A música cessa. Rapidamente ela recolhe suas peças de roupa espalhadas pelo chão. Acena e manda alguns beijinhos pelo ar àqueles que uivam insanos. Ao som de assovios e aplausos, sai de cena. Não é mais aquele furacão que deixou a todos excitados e volta a ser somente mulher. Repleta de sentimentos e anseios, sufocada pela realidade.

Um pequeno espelho, uma nota de vinte enrolada como um canudo. Uma fungada naquela substância branca como a neve e sua tensão volta a ficar em segundo plano. Ela veste sua roupa e volta a cobrir sua alma com uma máscara. Triunfante, retorna caminhando ao meio do salão. Seu show se encerrou, mas a noite apenas começa.

Jovens procurando diversão, homens mais velhos que precisam de companhia, gente de todas as idades em busca de uma boa sacanagem. Tipos variados que ela consegue decifrar rapidamente. Anda calmamente, próximo ao grupo de jovens, deixa-os sentir seu perfume e tocar de leve sua pele por poucos segundos. Tempo suficiente para despertarem a libido. Segue e arranca mais alguns uivos e assovios de um grupo de bêbados, escornados em uma poltrona ao canto. Passa direto por mim, não sem antes olhar no fundo dos meus olhos e penetrar, mais uma vez, minha alma. Pára. Coloca nos lábios o sorriso mais sincero que consegue e senta-se ao lado do único homem que não havia babado por sua performance.

A barriga protuberante quase o impede de alcançar o copo de uísque que pousa sobre a mesa. Correntes douradas no pescoço quase se perdem em meio aos pêlos, expostos pela camisa entreaberta. Em sua mão esquerda, uma grossa aliança dourada caminha pelas coxas torneadas de sua acompanhante, enquanto ele pede para a garçonete servi-la um drinque. A simples imagem de tal criatura possuindo-a causa-me enjôo.

As doses de uísque são derramadas como se fossem copos d'água. A cada minuto que passa, as gargalhadas aumentam. Aos poucos, ela vai se soltando. Seus gestos indicam que agora não se trata mais de apenas uma transação financeira. Ela se solta. Parece livre, despreocupada. Talvez em decorrência da mistura de álcool e substâncias psicotrópicas, talvez pela companhia.

Ele é diferente dos outros. Ela não se importa com a aliança em sua mão esquerda, ou com sua aparência, muito menos com seus modos (ou falta deles). Diferente de todos os outros, ele a escuta. Não uivou, nem assoviou quando a viu no palco, tampouco aplaudiu.

Se levantam. De mãos dadas, caminham para o quarto. Passam-se algumas horas. Outras se apresentam, recebendo os mesmos assovios e aplausos. Mais pares caminham para os quartos, enquanto alguns ficam por conta de só observar. Reaparecem. Novamente de mãos dadas. Novamente sorrindo.

Após um longo beijo de despedida, ele se vai, silencioso como chegara. Ela, triunfante como antes, caminha em direção a outra mesa. Sorridente, se apresenta a um jovem com quem se senta. Pede uma bebida. Recomeça seu jogo. Sua profissão. Sua vida.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Muito obrigado e até breve

Com um sorriso simpático e um aperto de mãos, encerra-se mais um ciclo na jornada rumo ao profissionalismo (não ao diploma, afinal, o pedaço de papel vale muito menos que as lições aprendidas).

_ Gilberto, foi um prazer. Ainda entrarei em contato, durante a semana, e espero que possamos nos comunicar no futuro.

Cumprimentei, agradeci e disse que o prazer foi meu. Virei-me e saí de sala. Oficialmente estava encerrada mais uma disciplina. Provas feitas, chamadas respondidas, trabalhos entregues, lições aprendidas.

Durante 3 anos de curso, já terminei algumas matérias, conheci alguns professores (uns bons, outros nem tanto), mas digo que nenhum deles me instigou e até incentivou tanto quanto esse.

Lembro-me em particular de uma conversa que tivemos ao fim da aula, juntamente com meus amigos Bernardo Biagioni e Pedro Castro. No fim, estávamos, os três alunos, comentando como uma conversa dessas dava vontade de começar uma revista, um jornal, um livro que seja. Sair pelo mundo descobrindo, desbravando, experimentando e escrevendo. Dar uma de Hunter Thompson.

Ao invés de sair impondo regras textuais e empurrar padrões goela abaixo, ele estimulou. Não precisou contar o número de letras de um título para mostrar o que era um texto bem escrito. Nunca disse o quanto ainda éramos imaturos (ou incompetentes) para nos tornarmos jonarlistas bem sucedidos.

Claro que ensinou. Deu trabalhos, avaliações, aplicou teorias e nunca, por qualquer motivo, se esqueceu da bendita chamada! Mas olhava para cada um de nós sabendo com quem falava, conheceu seus alunos e nos tratou de forma direta. E nunca deixou de reconhecer a importância de inovar, de transformar.

Portanto, muito obrigado Mário Viggiano. O prazer foi todo meu!




*Em sua última tarefa, Mário sugeriu uma crônica de tema livre. Queria que fizéssemos algo difrente. Fiz com prazer e postarei em breve.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

[FUTEBOL] Gigante da Pampulha se prepara para a Copa de 2014

Soa o apito. Mãos erguidas ao céu. No centro do gramado, o homem que geralmente é alvo das mais variadas críticas e ofensas, não tem a mesma importância de outros dias. Fosse um dia normal, as câmeras focariam jogadores alvinegros ou seu treinador buscando explicações para mais uma derrota no Campeonato Brasileiro de 2010. A quarta consecutiva da equipe.

Mas não nesse dia. Muito maior que lamentações de torcedores, ou justificativas de atletas eram os fogos lançados aos céus de Belo Horizonte, anunciando o sono do Gigante da Pampulha. Após 44 anos, 9 meses e 2 dias de sua inauguração, o Mineirão teve sua última partida antes de uma longa paralização que proporcionará a maior obra de sua história.

Minas Gerais se prepara para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e, para tanto, busca adequar seu maior palco futebolístico às normas da FIFA, entidade máxima do futebol. Seu gramado será rebaixado, as gerais deixarão de existir, tornando-se cadeiras e consequentemente, a área mais cara do estádio. A cobertura será extendida e apenas o gramado poderá ser atingido pelas chuvas.

Os quase 45 anos de existência desse palco do futebol tranformaram Mineirão em sinônimo de beleza e emoção. Alguns tiveram o privilégio de assistir Tostão, Dirceu Lopes, Joãozinho, Reinaldo, Éder e Cerezo. Outros, menos afortunados tiveram que "se contentar" com o fenômeno Ronaldo, Alex e Marques. Craques, cada um a seu tempo e cada um com sua grandeza, desfilaram nesses gramados.

Partidas incríveis, títulos inesquecíveis e muitas lágrimas marcam as páginas da história do lendário estádio. Tanto os torcedores celestes quanto os alvinegros extravaram em incontáveis ocasiões suas emoções pelos corredores, escadas e arquibancadas do Gigante da Pampulha. O segundo lugar poucas vezes foi tão amargo quanto em 1977 - para os atleticanos, que terminaram nessa posição, sem perder uma partida, no Campeonato Brasileiro - e em 2009 - para os cruzeirenses, que perderam a decisão da Libertadores, de virada, para o Estudiantes, diante de sua torcida.

Não só os segundos lugares, mas grandes conquistas foram assistidas na capital mineira. Em 1966, o imbatível Santos de Pelé foi destruído por um grupo de jovens desconhecidos. Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Zé Carlos, Piaza e cia, mostraram pela primeira vez a força do futebol mineiro para o Brasil.

Hoje o Gigante adormece. Sai de cena para voltar rejuvenecido. Voltará no momento em que o Brasil planeja despontar de vez no cenário econômico mundial, para um dos maiores eventos esportivos do planeta. O "país do futebol" sediará pela segunda vez, a Copa do Mundo. Dessa vez com muito mais pompa que em 1950. Muito mais expectativa.

Para grande parte da população belo horizontina será difícil não comer o "tropeirão" aos domingos. Ficar alguns quilômetros mais longe dos clássicos. Não percorrer os caminhos que levam ao amplo espaço das arquibancadas, cadeiras e geral. O Mineirão vai deixar saudade. Mesmo que por tempo determinado, mesmo que tenha data marcada para retornar à ativa, o estádio deixará alguns milhares de órfãos, que sabem que Independência, Arena do Jacaré e Ipatingão não têm a mística do Gigante da Pampulha.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

[Brasileirão 2010] - Adílson Batista se rende à pressão e deixará o Cruzeiro

No mesmo dia, a equipe do Cruzeiro perdeu seu técnico e seu principal jogador. Antes da partida contra o Santos, no Mineirão, o presidente Zezé Perrella disse que Kléber está liberado para acertar com o Palmeiras, após insistir bastante em voltar a morar em São Paulo, próximo de suas filhas. Na entrevista coletiva do final do jogo, foi a vez de Adílson Batista dizer que fará sua última partida no comando da equipe, no próximo final de semana, em Goiânia, contra o Atlético Goianiense.

Desde a eliminação da Libertadores, há especulações sobre uma transferência do Gladiador para a equipe alvi-verde. Sua saída era iminente e, durante os últimos dias, já se falava em diversos meios que o atacante já tinha contrato assinado com os paulistas. Mesmo com a conferência de imprensa do presidente azul na segunda-feira, dizendo que não existia acordo com o Palmeiras, tudo indicava que esse era mesmo o caminho de Kléber.

A grande surpresa da noite foi o fim da "Era Adílson". Paranaense de Andrianópolis, Adílson Dias Batista assumiu o comando do Cruzeiro no início de 2008. Logo que chegou à equipe, foi visto com desconfiança por parte da torcida e imprensa mineira, que não acreditavam ser o homem certo para conduzir a equipe ao terceiro título continental.

A principal característica do time de Adílson foi a organização tática. Logo que chegou, o técnico trouxe, do Japão, os volantes Fabrício, Henrique e Marquinhos Paraná, além de contar, nos primeiros anos de comando, com Ramires, um dos convocados para a Copa do Mundo de 2010.

Ironicamente, os mesmos volantes que caracterizaram a organização tática da equipe, foram o principal ponto de críticas para o treinador. Comentaristas de futebol amam números. Gostam de estatísticas e preferiram crucificar o treinador, de acordo com o número de volantes que colocava em campo, do que perceber que os mesmos têm habilidade para armar, não só desarmar e, em momento algum, tornavam essa equipe defensiva.

Sob o comando do ex-zagueiro, o Cruzeiro conquistou os títulos mineiros de 2008 e 2009, chegou à final da Libertadores de 2009 e terminou entre os 4 primeiros colocados dos Campeonatos Brasileiros de 2008 e 2009.

Além de Kléber, que está resolvendo os últimos detalhes com o Palmeiras, há especulações tirando o goleiro Fábio da Toca e, segundo fontes, Thiago Ribeiro também deve deixar Minas Gerais.

O Cruzeiro terá pouco mais de um mês para encontrar um novo treinador, contratar reforços e se re-estruturar. Não diria que é impossível, mas é muito pouco provável. A equipe deve sofrer com a falta de identidade até o fim da temporada.

Com uma equipe consistente, Adílson Batista deixou de ser um técnico emergente para se tornar um dos melhores do Brasil. Deixa o Cruzeiro, sendo desejado por Internacional, Palmeiras e Flamengo. Conhece o futebol como poucos e ainda terá muito sucesso em sua carreira.